Nasce o futebol brasileiro

Há 120 anos… dia 14 de abril de 1895.

Nasce o futebol brasileiro

POR FELIPE FIGUEIREDO MELLO*

Hoje é dia de muitas efemérides em uma só!

É como se fosse o dia em que o povo judeu cruzou o mar vermelho, mas é mais do que isso.

É como se fosse o dia em que Harvard ou Coimbra ou a Universidade de Bologna foram fundadas, mas é mais do que isso.

É como se fosse a efeméride de ontem, da inauguração de um grande museu, mas é mais do que isso.

É como se hoje fosse feriado nacional (deveria ser!), mas é mais do que isso.

Entenda, caro leitor, que o dia da primeira partida oficial de futebol disputada no Brasil, 120 anos atrás, vai além destas marcas. Muito além!

O futebol brasileiro como traço cultural e de identidade de um povo.

O futebol brasileiro como escola de arquitetura, de engenharia, de antropologia. Como escola de artes e ofícios.

O futebol brasileiro, ainda que surrado, sonhado, copiado, emulado.

O futebol brasileiro.

E tudo começou bem do nosso jeito: trazido da Europa pelos pés de um paulistano miscigenado, dançando sobre a linha que divide o improviso do planejamento, na fronteira de centro e periferia daquela São Paulo que se construía cosmopolita, entre operários brasileiros e estrangeiros.

O que se sabe é que antes da primeira partida oficial, o futebol já era praticado no Brasil e já se desenvolvia sobre o terreno da contradição: o esporte se difundia entre as classes mais baixas, como os operários da Railway Company, e também entre as classes mais altas, como a aristocracia que veio a fundar o Fluminense Football Clube, o tricolor carioca, alguns anos depois.

E foi Charles Miller, vindo da Inglaterra ainda em 1894, que trouxe na bagagem duas bolas, um par de chuteiras e um livro de regras. Também foi ele o idealizador da partida de 14 de abril de 1895, entre a São Paulo Railway Company, onde Miller trabalhava, e a Gas Company of São Paulo, disputada na Várzea do Carmo, região que era constantemente afetada pelas cheias do Rio Tamanduateí e onde hoje fica o Parque Dom Pedro. A partida foi vencida pelos ferroviários, por 4 a 2.

De lá para cá, o futebol foi se difundindo rapidamente pela criação de Ligas estaduais, dos clubes de futebol, das escolinhas. Também foi ganhando atenção cada vez maior da população até se tornar um elemento central na vida do brasileiro.

Sendo assim, passados 120 anos, não nos resta outra coisa a fazer que celebrar.

Nosso futebol-religião, de templos, de cânticos, de grandes milagres, de grandes tragédias. De deuses e reis, pagãos e plebeus.

Nosso futebol-escola, de mestres e aprendizes, de gênios e pardais, de enciclopédias e de aulas-magnas.

Nosso futebol-arte e sua transgressão inata, de curvas inesquecíveis e inalcançáveis, de folhas-secas, gols de goleiro, elásticos, pedaladas e bicicletas. E também das palavras, refletido em memoráveis crônicas e cronistas.

Nosso futebol-cultura, de geraldinos a arquibaldos, do Sobrenatural de Almeida ao complexo de vira-latas.

Celebremos, então!

P.S.: Para celebrar ainda melhor a data, fica a sugestão da obra-prima do José Miguel Wisnik, Veneno Remédio – O futebol e o Brasil, que não apenas é o melhor livro que explica a relação do Brasil com o futebol, como é um dos melhores livros que se propõem a compreender o Brasil. Vale cada página!

Obs.: as fotos que ilustram o post são do maravilhoso livro Futebol -Arte: do Oiapoque ao Chuí, do fotógrafo Caio Vilela.

* Felipe Figueiredo Mello, se não tivesse nascido homem, teria nascido cimento do Morumbi.

Canal 100 – Especial Brasil Bom de Bola (1970): 

+MAIS:

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