Há 20 anos… dia 5 de abril de 1994.
POR LUIZ RAATZ*
Um longo tempo atrás, numa galáxia não muito distante, onde não existiam o Facebook, o YouTube e o Twitter – a própria internet ainda era uma coisa muito incipiente – existia uma banda chamada Nirvana.
Dias como o de hoje, quando se completam 20 anos do suicídio de Kurt Cobain, só agravam aquele saudosismo que vem com a constatação: “Estou ficando velho.”
Me lembro quando o suicídio completou 5 anos, em 1999, e a revista Bizz fez um especial sobre a morte de Kurt. Eu comprei um exemplar e levei pra escola. Eu tinha 17 anos e ainda estava na escola. Hoje, com 32, já me formei, saí de casa, casei, separei e casei de novo.
Mas, como diz a torcida do Vascão, o sentimento não pode parar. A sensação que eu tenho toda vez que ouço os primeiros acordes de “Smells Like Teen Spirit” no rádio é a mesma de quando eu a ouvi pela primeira vez, em 1993.
Um dos grandes desafios de uma banda é envelhecer com dignidade. Algumas conseguem, como os Rolling Stones e o Pearl Jam. Outras ficam pelo caminho. Se Kurt não tivesse se matado, improvável que o Nirvana tivesse continuado. Dave Grohl tinha outras ambições e dificilmente o líder e vocalista sobreviveria por muito mais tempo com seu severo vício em heroína. Caso conseguisse, teria ido para um outro caminho.
É um exercício irresistível imaginar o que Kurt estaria fazendo hoje se vivo estivesse. Eu aposto numa espécie de Neil Young levado às últimas consequências, longe da internet, da imprensa, num rancho no interior do Estado de Washington, ocasionalmente endossando bandas alternativas desconhecidas e dando canjas casuais num show do Mudhoney.
Há um vídeo rolando no YouTube (veja abaixo) no qual adolescentes de hoje são entrevistados sobre a banda. Eles assistem a três videoclipes do Nirvana e são estimulados a comentar sobre a o grupo. As reações dizem muito sobre o que é ser moleque, gostar de rock e o legado de Kurt.
Uma das mais bacanas é uma menina que diz: “As pessoas jovens sempre vão atrás da mesma merda. Temos a mesma angústia e problemas que os jovens de 50 anos atrás tinham.”
Outros são até engraçados, como:
“Isso é música de branco?”
“Dave Ghrol tinha rabo de cavalo?!”
“Os clipes daquela época não tinham ninguém tirando a roupa!”
O que é ótimo, porque tira de quem já está mais perto dos 40 que dos 20 aquela sensação de que tudo que é novo é ruim e só o quê a gente gostava quando era moleque que valia a pena. Sempre vale a pena.
Volta e meia, em casa, eu pego meu violão para dedilhar em casa. Eu sei tocar um monte de músicas, mas sempre batuco os mesmos acordes. São as primeiras canções que aprendi, ainda em 1994, ano em que ele se matou: “Polly”, “In Bloom”, “Lithium”. “About a Girl”. “Come as You Are”. “Smells Like Teen Spirit”.
A sensação é a mesma. Eu tento imitar (sem sucesso) aquela voz rasgada enquanto toco. Como se Kurt ainda estivesse vivo.
* Luiz Raatz, 32 anos, é repórter de Internacional do Estadão e fã do Nirvana desde 1993.
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