31 de outubro de 1963
“Bellini inventou o gesto de levantar a taça. Carlos Alberto inventou o gesto de beijar a taça. E Dunga inventou o gesto de xingar a taça”.
O jornalista Marcelo Barreto definiu com engraçada precisão o gesto do capitão brasileiro na Copa do Mundo de 1994. Ao receber a taça do tetracampeonato mundial, Dunga levantou-a acima da cabeça e bradou, em direção aos fotógrafos brasileiros:
“Esta é pra vocês, traíras, filhos da puta!”.
Um momento de fúria que tinha como alvo toda a imprensa brasileira, com quem Dunga nunca teve bom relacionamento. Um gesto feio, claro, mas compreensível.
Coloque-se no lugar de Carlos Caetano Bledorn Verri, que hoje completa 50 anos.
Pense que o fracasso da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1990 ganhou um selo com o seu nome.
Que a pior campanha canarinho desde o mundial de 1966 ficou rotulada com sua marca, a “Era Dunga”.
Que, mesmo injustamente, você personificou o futebol feio, uma imitação barata da Europa, distante do talento brasileiro, assim disseram.
Que você personificou a derrota.
Por quatro anos, você vê seu nome associado ao fracasso.
Apesar de tudo, você segue trabalhando. Retorna à seleção somente em 1993, sob um vendaval de críticas e muita desconfiança.
Começa uma nova Copa do Mundo. Com um enorme peso de 24 anos sem Copa, o Brasil se afiança em um time pragmático, muito bem acertado taticamente e com um gênio de nome Romário.
Você se destaca pela garra, liderança, mas também por belos lances, como um passe de trivela para o craque do time, na segunda vitória da campanha, 3 a 0 sobre Camarões.
Fora de campo, exerce papel silencioso importante: é você quem cuida do gênio da equipe, o segura das noitadas com mulheres, o faz ver que aquele é o momento maior de uma carreira de jogador de futebol.
No quarto jogo, assume o posto de capitão para nunca mais largar.
Na decisão, marca o gol do título, na disputa por pênaltis, apesar de, posteriormente, ninguém se lembrar disso.
Na comemoração, um peso de quatro anos e milhões de toneladas é descarregado de maneira primitiva, bruta.
Assim é Dunga. Bruto, direto, simples.
Um jogador aplicado que, por seu próprio esforço e luta, chegou muito mais longe do que muitos craques brasileiros. Campeão do mundo. Capitão.
Jogador de Corinthians, Santos, Fiorentina, Pescara e Pisa, da Itália, Stuttgart, da Alemanha. Campeão no Internacional, Vasco, Jubilo Iwata-JAP, mas, acima de tudo, na seleção brasileira.
Campeonato Sul-Americano Sub-20 (1983), Copa do Mundo Sub-20 (1983), Torneio Pré-Olímpico (1984), Copa América (1989 e 1997), Copa das Confederações (1997).
Copa do Mundo de 1994.
Com um currículo como esse, não é à toa que Dunga está no livro Os 100 melhores jogadores brasileiros de todos os tempos!
No entanto, segue contestado, muitas vezes odiado.
A ferida aberta em 1990 não cicatriza e Dunga leva toda a carga de mágoa para fora de campo. Na breve carreira de técnico, os ânimos com a imprensa se acirram mais ainda. A ponto de, mesmo com brilhante trabalho na seleção, ser sempre analisado de forma enviesada, até preconceituosa.
Os títulos da Copa América de 2007, da Copa das Confederações de 2009 e o aproveitamento de 76,7% em 60 jogos no comando do Brasil não valem nada, segundo os críticos e grande parte da torcida. A derrota na Copa do Mundo de 2010 – injusta, na pobre opinião deste blogueiro – apaga tudo.
No momento, os críticos estão em polvorosa com a passagem pouco inspirada de Dunga pelo Inter, em 2013.
Por sua vez, o técnico se recolhe em busca de novo momento de glória, de um novo “cala-boca”.
Fica a torcida para que a beligerância acabe, de lado a lado.
Que os críticos enxerguem em Dunga um grande da história do futebol brasileiro.
Que o grande jogador e agora bom técnico enterre mágoas, pare de ver perseguição em cada vírgula da imprensa e trilhe, no banco, estrada tão brilhante quanto construiu dentro de campo.
Dunga na final contra a Itália:
Fontes: