Há 10 anos… dia 19 de agosto de 2003.
POR FELIPE FIGUEIREDO MELLO*
Dez anos atrás, um atentado à bomba na sede das Nações Unidas, em Bagdá, atribuído à Al Qaeda, vitimou 22 pessoas.
Entre elas, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
Ele era o representante especial do secretário-geral Kofi Annan na missão mais desafiadora de três décadas de trabalho prestado à ONU e à causa humanitária: restaurar um Iraque assolado por mais de 20 anos de conflitos.
Não seria exagero dizer que o mundo perdeu, então, um de seus maiores defensores.
Carismático, pragmático e um exímio negociador, o carioca Vieira de Mello iniciou a trajetória nas Nações Unidas no ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), em 1969, mesmo ano em que o pai, Arnaldo, diplomata brasileiro, foi compulsoriamente aposentado pelo governo militar brasileiro. Com pouco mais de 20 anos, descobriu-se apaixonado pelo trabalho com refugiados e a difícil tarefa de conduzir-lhes de volta aos seus lares.
Muito embora também fosse um profundo estudioso de filosofia, ciência pela qual se interessou antes mesmo de ingressar na Sorbonne (na qual fez doutorado de Estado, em 1985), Vieira de Mello tinha mais prazer em negociar com líderes guerreiros, estar rodeado por minas terrestres na selva cambojana ou debaixo de bombardeios com notórios genocidas nos Bálcãs. Era tão apaixonado pelo trabalho que, tão logo sentisse o tédio burocrático dentro de um escritório da ONU, procurava um novo desafio em alguma zona de conflito do planeta.
Em 34 anos de dedicação à ONU, passou por praticamente todas as zonas beligerantes do pós-Guerra: Líbano, Bangladesh, Sudão, Chipre, Moçambique, Camboja, Bósnia-Herzegovina, Ruanda, Kosovo, Timor Leste e Iraque.
Não media esforços para fechar campos de refugiados e sua característica de negociador implacável foi, muitas vezes, alvo de críticas. O brasileiro jamais fechou os olhos para as atrocidades cometidas por figuras como Radovan Karadzic e Slobodan Milosevic, responsáveis pelo genocídio de muçulmanos bósnios e albaneses do Kosovo, mas acreditava, sobretudo, que o fim do sofrimento dessas populações dependia de projetos de futuro, não de meras retaliações orquestradas por exércitos poderosos.
Extremamente hábil e humilde, Sérgio era capaz de encantar desde um refugiado em um campo qualquer na Tanzânia até chefes de Estado de grandes potências em encontros oficiais.
Não fosse o atentado de 19 de agosto de 2003, o brasileiro tinha grande possibilidades de, talvez, chegar ao cargo máximo na ONU.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
Veja o documentário “Sergio – One Man’s Fight to Save the World”, baseado no livro de Samantha Power:
Fontes:
– Livro O Homem que queria salvar o mundo. Uma Biografia de Sergio Vieira de Mello, de Samantha Power
* O post de hoje é de outro éfemello, o irmão Felipe. Formado em Relações Internacionais pela PUC-SP, deixa sua contribuição e fala sobre a vida do grande homem que foi Sérgio Vieira de Mello.