Há 50 anos… dia 22 de outubro de 1965.
“Isn’t he a bit like you and me?”
O homem de lugar nenhum.
Sentado na terra de lugar nenhum.
Fazendo planos para ninguém.
Sem ponto de vista, sem saber pra onde ir.
Esperando até que alguém lhe dê a mão.
Sim, John, ele é como eu e você.
De certa forma, somos 7 bilhões de “Nowhere Man”.
Meio perdidos, meio medrosos, meio de lugar nenhum.
Pequeninos em um mínimo ponto no vasto Universo.
E, no entanto, – que bonito, que esperançoso, que reconfortante! -, podemos tomar nosso tempo, o nosso passo, pois temos o mundo ao nosso comando!
Que letra! Que melodia!
“Nowhere Man” é minha canção favorita dos Beatles. Não há uma vez sequer que ouça e não me emocione. Nenhuma.
É uma espécie de “Caçador de Mim” britânica, pra citar a maravilhosa música de Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá, imortalizada por Milton Nascimento.
É a primeira composição dos Beatles que não fala de amor, garota(s) ou romance(s).
É o ser humano, só. O ser humano só. E suas angústias, suas crises existenciais, seus caminhos, seus planos, suas dores.
Pra falar dele mesmo, John usou o próximo. Como um espelho.
“Naquela manhã, eu havia passado cinco horas tentando compor uma canção que fosse boa e tivesse sentido, até que finalmente desisti e fui me deitar. Então, veio ‘Nowhere Man’, letra e música, a coisa toda completa, enquanto eu estava deitado”, conta John, na extraordinária entrevista que ele e Yoko concederam a David Sheff, publicada na Playboy um dia antes do fatídico 8 de dezembro de 1980.
À parte a letra lírica, sensível e deveras humana, a melodia ainda tem John, Paul e George em coral absolutamente harmônico e onírico, com destaque para o início a cappella. Lindo.
O baixo de Paul, as linhas de guitarra de George ao fim de cada estrofe e o solo dobrado das Fender de George e de John, além dos indefectíveis backing vocals (ahhhhhh… ahhhh… lálálá… ahhhlálálá…), dão o toque final para uma obra-prima.*
“’Nowhere Man’ é uma canção pop tão linda, com uma letra inovadora, lírica e existencial. Ela permite que você realmente veja o momento de descoberta.”
Com as palavras de Billy Corgan, do Smashing Pumpkins, que fez um cover da música, o éfemello fica por aqui…
…making all his nowhere plans for nobody!
P.S.: A foto do post é o momento em que os Beatles começam a cantar “Nowhere Man” no desenho “Yellow Submarine”!
* A bateria de Ringo! Como esquecer de Ringo?! O toque certo, a sensibilidade harmônica, o timing. Sublime.
“Nowhere Man”, ao vivo, em Munique, 1966:
Fontes e +MAIS: