Há 55 anos… dia 12 de outubro de 1960.
POR FELIPE FIGUEIREDO MELLO*
A Crise dos Mísseis.
As Guerras da Coreia e do Vietnã.
O Muro de Berlim e a Cortina de Ferro.
As ditaduras latino americanas e a Operação Condor.
A Guerra Fria foi um período de grandes controvérsias. Em um mundo dividido em dois, não havia polêmica ou crise que não girasse em torno desta tensão entre Estados Unidos e União Soviética. Das mais sérias, como a crise dos mísseis em Cuba, que quase deflagrou um combate direto entre americanos e soviéticos, às mais estapafúrdias, como esta que o efemérides relata hoje e que completa 55 anos: O Incidente do Sapato, protagonizado pelo premiê soviético, Nikita Khrushchev.
A própria data, aliás, é controversa. O caso é tão insólito e engraçado que não há acordo sobre o dia certo, embora a maioria das fontes aponte para 12 de outubro de 1960.
A história que se conta é que, naquela ocasião, ocorria uma tensa sessão da Assembléia Geral da ONU, em Nova York, presidida pelo irlandês Frederick Boland. A certa altura, Khrushchev criticou a presença ocidental na África e a forma como algumas das potências europeias (Inglaterra, França, Espanha, Portugal e Itália) mantinham os países africanos em regime colonialista.
Pouco tempo depois, no parlatório, o chefe da delegação filipina, Lorenzo Sumulong, rebateu a crítica de Khrushchev, dizendo que era a União Soviética, na verdade, quem tirava a liberdade e o exercício da democracia da população dos países do Leste Europeu. No mesmo momento, Khrushchev levantou transtornado de seu assento na bancada e, gesticulando e mexendo os braços na direção de Sumulong (sem agredi-lo, no entanto), tomou o espaço e o microfone no parlatório e começou a chamar o filipino de “idiota, palhaço e lacaio”, acusando-o de subserviência ao imperialismo americano.
O presidente da assembleia, Frederick Boland, ordenou Khrushchev a voltar a seu assento e orientou o filipino a “evitar discorrer sobre um assunto que certamente provocaria intervenções”. O que se seguiu, dizem, é o gesto que entrou para a História: Sumulong continuou seu discurso, enquanto um irritado Khrushchev, vez ou outra, esmurrava a mesa.
Em um arroubo de cólera, Khrushchev retirou seu sapato e bateu sobre a mesa! Em seguida, levantou-se novamente e correu ao parlatório. No mesmo momento, o representante da Romênia, que fazia parte do Bloco Soviético, Eduard Mezincescu, solidário a Khrushchev e igualmente nervoso, levantou-se do assento e começou a gritar em direção a Sumulong.
A confusão foi tamanha que Boland se viu obrigado a elevar o tom e encerrar a sessão, batendo tão forte o martelo de madeira na mesa da presidência que acarretou na quebra do instrumento! O pobre martelo não sobreviveu para as sessões seguintes da Assembléia Geral.
A história, tão engraçada quanto insólita, é controversa a ponto de não haver acordo sobre a sequência dos fatos. O que se sabe, concreta e verdadeiramente, é que um irritado Khrushchev bateu seu sapato na mesa durante a Assembléia Geral da ONU.
Anos depois, dois relatos de pessoas próximas indicam uma história ligeiramente diferente. A filha de Khrushchev, Nina, contou que naquele dia seu pai usava sapatos muito apertados e, por isso, havia retirado durante a sessão. Quando o soviético se enfureceu pelo discurso do filipino, ao esmurrar a mesa seu relógio caiu no chão e na hora de pegar o objeto, aproveitou para pegar também o sapato e batê-lo na mesa.
O intérprete de Khrushchev, Viktor Sukhodrev, conta algo parecido: na verdade, o premiê havia deixado o sapato na mesa desde o início da sessão e, quando quebrou o relógio, se enfureceu ainda mais e passou a bater o calçado na mesa.
Houve muitas tentativas de esclarecimento da história: o filho de Khrushchev, Sergei, procurou sem sucesso fotos do momento do incidente. A CBS e NBC, emissoras americanas, tentaram encontrar vídeos em seus acervos, mas também fracassaram.
Em pesquisa na internet, há uma foto falsa de Khrushchev segurando um sapato no parlatório da ONU. O que há, de verdadeiro, é uma foto do premiê soviético sentado em seu lugar na bancada da Assembléia, com o sapato sobre a mesa. É o único registro que indica a veracidade da história.
A história é tão engraçada e marcante que já rendeu paródia até do seriado Os Simpsons, com o diretor Skinner no papel de “batedor de sapato”, em uma simulação da ONU na escola de Springfield.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Felipe Figueiredo Mello adora as oportunidades de calçar os sapatos do irmão éfemello e colaborar com o efemérides!
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