Há 25 anos… dia 7 de dezembro de 1989.
“Uno Más”: o mico em Sugar Ray Leonard vs Roberto Durán
POR RAUL ANDREUCCI*
Ray Junior e Jarrel. Foram estes os responsáveis pela última vez de Ray Charles Leonard no ringue (bem, não foi a última de verdade, mas talvez a última pra valer!).
Sugar Ray Leonard, a lenda americana do boxe, um dos maiores de todos os tempos, que encerraria a carreira com títulos mundiais em cinco diferentes categorias, não queria deixar os filhos com a recordação de uma despedida indigna de sua trajetória: um empate, em junho de 1989.
Quase seis meses depois, em 7 de dezembro, Leonard estaria novamente diante dos holofotes, no Mirage & Hotel Casino, em Las Vegas, para dar o adeus com que sonhou: diante de um de seus maiores rivais, o panamenho Roberto “Manos de Piedra” Durán.
Seria a terceira luta entre os dois.
Na primeira, em Montreal, onde Leonard ganhara o ouro olímpico, em 1976, e tornava-se o boxeador mais bem pago até aquele momento, com uma bolsa de US$ 10 milhões, Durán levou a melhor. A luta de junho de 1980 é, até hoje, reverenciada como uma das melhores do esporte – e a preferida de Mike Tyson, por exemplo – tamanha a quantidade de trocas de golpes, rápidos e pesados, capazes de derrubar qualquer um.
A revanche aconteceu ainda em novembro daquele ano, em New Orleans. Leonard recuperou o cinturão dos médios do World Boxing Council (WBC) retomando seu estilo de bailar por todo o ringue. A disputa não foi até o final, já que Durán, de maneira bizarra, abandonou no fim do oitavo round, reclamando de cãibras estomacais. Ficou para a eternidade seu aceno com a mão direita, diante do apelo do árbitro para voltar, dizendo: “No más”.
Nove anos mais tarde, a dupla se reencontrou para “Uno Más”, como foi promovida a luta, numa clara brincadeira com o episódio anterior e em alusão à chance derradeira de Sugar Ray Leonard (de vencer, de verdade, Roberto Durán e fechar a carreira com chave de ouro).
Naquele 7 de dezembro de 1989, há exatos 25 anos, Leonard chegava com o título dos super-médios e Durán, dos médios – ambos do WBC. A batalha de campeões, que tinha tudo para ser fenomenal, acabou como um dos maiores micos da história.
Leonard repetiu os passos que cansaram Durán no segundo duelo. Só que, com 38 anos, o panamenho não tinha fôlego para pressionar o rival às cordas com o mesmo vigor. O americano, cinco anos mais novo, bailou até não poder mais. Arriscou e acertou menos golpes, mas dominou os doze rounds. A falta de combate irritou os 16 mil torcedores. Vaias e saídas antes do gongo final, ignorando o triunfo de Leonard, em decisão unânime, por pontos.
Durán reclamou que o adversário fugiu. Leonard deu de ombros: “Não lutei por ninguém. Disseram que eu não tinha mais condições. Lutei essa por mim, por meus filhos e netos”.
Pena que, para a posteridade, sobraram os apupos. Pat Putnam, da revista Sports Illustrated, descreveu melhor do que ninguém o que deve ter sido a sensação dos fãs de boxe, ávidos por um duelo emocionante e diante de tão pouca ação: “A maioria não pagaria nem um centavo para assistir Van Gogh pintar, mas lotariam um estádio para vê-lo cortar sua orelha”.
Hoje, 25 anos depois, Sugar Ray Leonard e Roberto Durán se dizem grandes amigos. Depois das duas primeiras lutas, já tinham protagonizado um comercial de refrigerante. Recentemente, fizeram um documentário da ESPN sobre a segunda luta entre eles. Leonard, aliás, foi quem entregou o troféu, símbolo da entrada de Durán no Nevada Hall of Fame, em agosto de 2014. Os dois aparecem em diversos momentos conversando e se divertindo. Não que o panamenho não se assuste com o americano de vez em quando (veja aqui!).
Eles ainda estarão, de certa forma, juntos, dessa vez nas telinhas, no filme “Hands of Stone”, sobre a vida de Durán, interpretado por Édgar Ramírez – Usher está na pele de Leonard.
* Raul Andreucci, 29 anos, acredita ser mais jornalista do que nunca. Dedicado a projetos pessoais, como um livro prestes a sair do forno, e o Mestrado em Ciências Sociais na PUC-SP, se sente honrado sempre que convidado contribuir com esse espaço.
Veja Sugar Ray Leonard vs Roberto Durán III:
Fontes:
– si.com
Duran foi um excelente boxeador, gostei que tenham sacado de um filme sobre sua carreira. Acho que Edgar Ramírez foi perfeito pelo personagem. É de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores. Mãos de Pedra é um dos melhores do gênero de drama que estreou o ano passado. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia.