“Toda parceria é um casamento onde há tudo, menos sexo”, definiu Vinicius.
Foi com Toquinho o “casamento” mais duradouro.
Em 10 anos, o jovem e seu violão foram cúmplices perfeitos do processo de autodesconstrução do poeta.
Havia um homem de 59 anos, pronto a assumir o papel de mestre.
Vinicius negou a escolha fácil e optou pelo caminho da deseducação, da simplicidade e do resgate da pureza.
Aos 23 anos, Toquinho foi testemunha, avalista e companheiro da jornada do poeta rumo à alegria.
Em uma década, muitos discos, milhares de histórias memoráveis e mais de mil shows, uma média de cem por ano!
Vinicius & Toquinho rodaram o mundo espalhando e absorvendo a beleza do presente.
O poeta buscou nas universidades o calor que não tinha da crítica patrulheira, sedenta por algo pedante, pretensa e equivocadamente superior. Buscou, também, a fuga do Brasil Grande dos militares.
Na contramão, queria o simples, o romantismo, a paixão, acima de tudo.
Assim, mandou todo mundo pra “tonga da mironga do kabuletê”, questionou “você que só ganha pra juntar, o que é que há, diz pra mim, o que é que há?” e bradou que “quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não”!
“Vinicius e Toquinho se tornaram sócios numa recusa – a da falsa grandeza – e numa afirmação – a do presente perpétuo, sem promessas e sem glórias, mas também sem exigências e sem rituais de salvação, onde tudo o que importa é a alegria”.
José Castello resume com perfeição a parceria. Lembra que a diferença de idade não implicou em uma relação de pai pra filho.
“Na verdade, se houve adoção, as coisas se passaram bem ao contrário. Foi, de algum modo, Toquinho quem adotou Vinicius, se é que se pode pensar que, numa parceria musical, como nos livros de biologia, um lado sempre toma o papel de regente.”
A parceria durou até as horas finais da vida de Vinicius. Na noite de sua partida, lá estava Toquinho, sentado na privada, compondo com o poeta imerso na imensidão infinita de sua banheira.
“No fundo, e o mais importante, um grande amigo que a vida escolheu para morrer quase em meus braços. Sentindo-me, de início, um objeto da blasfêmia da vida, eu admitiria depois como um privilégio ter sido o escolhido para vivenciar as últimas horas do poeta”, escreveu Toquinho, em bonito depoimento ao Estadão.
Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe.
A parceria rendeu tantas canções inesquecíveis, versos definitivos e melodias belíssimas que é difícil escolher.
“A tonga da mironga do kabuletê” resume com clareza, graça e beleza a ideia de desconstruir a vida, o fio condutor da parceria de Vinicius & Toquinho.
Menções afetivas a “O velho e a flor” e “Testamento”.
Fontes:
– Biografia Vinicius de Moraes – O poeta da paixão, de José Castello