Há 80 anos… dia 23 de novembro de 1936.
POR WALTERSON SARDENBERG Sº*
Se há um clichê nas histórias de blueseiros é chamá-los de figuras lendárias.
No caso de Robert Johnson, no entanto, isso é pura realidade. Sua vida está cercada de lendas.
Ele era um blueseiro menor, para quem ninguém dava bola. Sumiu. Voltou totalmente mudado. Estava tocando como ninguém ousara tocar, compondo maravilhas (que são até hoje os maiores clássicos do blues) e cantando com um feeling de arrepiar.
Levaram-no para um quarto de hotel (que existe até hoje e onde, há poucos anos, Clapton gravou um disco e um DVD) e ali ele registrou sua voz e seu violão para a posteridade.
Morreu pouco depois, aos 27 anos (sim, como alguns de seus seguidores), ao que parece assassinado por um marido ciumento. Dele só se conhecem três fotografias (uma delas, a deste post).
Dizem que, nos tempos de sumiço, fez um pacto com o diabo. É a maneira de explicar o fato de ter composto “Crossroads” (sucesso com o Cream), “Love in Vain” (recriada pelos Stones), “Sweet Home Chicago”, “Come On In My Kitchen” (sucesso com a Steve Miller Band) e outros clássicos.
Pois exatos oitenta anos atrás esse tal blueseiro que teria feito pacto com o tinhoso registrou as primeiras gravações, no tal hotel, em San Antonio, Texas.
Foram elas: “Kind Hearted Woman Blues”, “I Believe I’ll Dust My Broom”, “Sweet Home Chicago”, “Ramblin’ On My Mind”, “When You Got A Good Friend”, “Come On In My Kitchen”, “Terraplane Blues” e “Phonograph Blues”.
Para se ter uma ideia do peso de Johnson, cada uma dessas oito canções abriu um caminho no repertório de blues. De cada uma delas, derivam centenas de outras. Quase todos os blues do Led Zeppelin vêm daí. E assinados como Page/Plant, o que é um descalabro.
Sim, a matriz dos blues do Led Zeppelin são as gravações do Robert Johnson no quarto de hotel.
Além disso, há zilhões de gravações de cada uma dessas músicas. O mais impressionante: se você ouvir a versão original, está muito perto das demais. Todo mundo copiou o estilo de Johnson para fazer riffs (Jimmy Page, em especial) e seu jeito de usar a bottleneck para soar como guitarra slide. Em tempo: bottleneck é o objeto cilíndrico de vidro ou metal em que o blueseiro enfia um dos dedos da mão esquerda para “deslizar” sobre as cordas. Tem esse nome porque os primeiros eram gargalos de garrafas.
Em resumo, Robert Johnson é a “Bíblia”, é a “Constituição”, é a “Pedra de Roseta”, a teoria essencial em que se baseiam os blues (leia-se blues modernos).
A “Bíblia” morreria em agosto de 1938, no Mississippi, seu estado natal.
Mas essa história fica pra outro dia… Porque todo dia é histórico.
* Walterson Sardenberg So nasceu em 6 de julho de 1957, o dia em que John Lennon e Paul McCartney se conheceram. Trabalha diariamente como jornalista desde março de 1979.
“Sweet Home Chicago”:
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Um comentário sobre “As primeiras gravações de Robert Johnson”