Há 10 anos… dia 25 de novembro de 2005.
Mesmo se você não for um amante do futebol, vale fazer uma forcinha para assistir Manchester United x PSV, logo mais, às 17h45min. Ao menos até o minuto 7. Você vai entender o porquê.
Não é por se tratar do duelo entre o líder e o vice-líder do acirrado e imprevisível grupo B da atual Liga dos Campeões. Ou por causa de Rooney, Schweinsteiger ou do encontro de “mestre” e “pupilo” entre Louis Van Gaal e Phillip Cocu. Não. Nada disso.
Hoje, os olhos devem estar voltados para as arquibancadas do Teatro dos Sonhos, o lendário Old Trafford. Precisamente no sétimo minuto da partida, a massa de quase 80 mil torcedores vai prestar tributo a um dos maiores da História dos Diabos Vermelhos.
Luzes de celulares serão acesas, músicas e cantos serão entoados, faixas e cartazes serão mostrados, incluindo os dizeres ‘There Is a Light That Will Never Go Out’, clássico de 1986 dos Smiths, banda de Manchester.
Tudo para George Best.
Atualização: a festa aconteceu somente nas arquibancadas. O pífio 0 x 0 foi compensado com a bonita homenagem da torcida do ManUtd, com direito a canto uníssono da recente adaptação de “Spirit in The Sky”, música de Norman Greenbaum, de 1969. Veja aqui!
Há uma década, ele se foi. Dos 59 anos de vida, 11 foram dedicados ao manto vermelho do Manchester United. Camisa 7 (por isso o minuto 7!). Com ela – e, antes, também com a 11– às costas, Best foi mágico. Elegante, técnico, driblador, irreverente, raçudo, goleador. Tudo isso com um carisma irresistível.
Sua passagem pelos Red Devils tem início de um conto de fadas, como bem descreve o texto de duas páginas dedicado ao “Quinto Beatle”, na Enciclopédia Oficial do Manchester United.
“Boss, I think I’ve found you a genius”, escreveu o olheiro Bob Bishop, em telegrama ao então já mítico Matt Busby, técnico do Manchester. O ano era 1961, e Bishop tinha visto um mirrado e franzino menino batendo bola no bairro de Cregagh State, em Belfast, Irlanda do Norte.
Com apenas 15 anos, George Best foi trazido para Manchester. Em dois dias, estava de volta aos braços dos pais, Dickie e Anne, com saudade de casa (“homesick”, como eles dizem lá). Busby ligou e conversou com Dickie, e garantiu que cuidaria do prodígio. Virou um segundo pai para George.
O menino ficou dois anos no amador, treinando e ganhando corpo para suportar um jogo profissional. Em 14 de setembro de 1963, estreou com a camisa vermelha do Manchester United, vitória de 1 a 0 sobre o West Bromwich, em Old Trafford.
Busby gostou do que viu e George atuou em 26 jogos naquela primeira temporada (1963-64), anotando seis gols. Também fez parte do time sub-18 que venceu a FA Youth Cup, primeira taça conquistada pelo United desde o desastre aéreo de Munique, em 1958.
Em pouco tempo, o cabeludinho conquistou a torcida com um estilo único, que aliava velocidade, inteligência, habilidade e eficiência. “Sua meteórica trajetória de 11 anos é repleta de momentos mágicos, os quais a geração do YouTube ainda pode apreciar”, diz o texto sobre ele, também na Enciclopédia Oficial do Manchester United.
E o que podemos ver no YouTube é um genial jogador de futebol. Com picardia de peladeiro e lances de artista. Aliás, está na hora de dar o devido peso ao boleiro George Best, mais do que o frasista, o mulherengo, o boêmio ou o popstar (o primeiro do futebol). Personas e facetas poderosas e atraentes, é verdade, mas não maiores que o jogador de futebol.
É o que ressalta Adam Bate, em texto no site da Sky Sports. Uma tese apoiada por nada mais nada menos que Denis Law. Com Best e Charlton, formou a “Santíssima Trindade” do Manchester United. Trio retratado em bronze, em frente ao Teatro dos Sonhos. Só isso.
Com eles, o clube conquistou a primeira taça europeia de sua História, em 1968. O melhor ano da carreira de George Best, com direito a Bola de Ouro e tudo, à frente do próprio Bobby Charlton e de Franz Beckenbauer.
Em onze temporadas de Manchester United, foram 179 gols em 470 partidas, dois títulos ingleses, um da Europa.
Mais do que tudo, George Best conquistou o coração de uma torcida apaixonada, o imaginário de um país e o lugar no panteão de gênios do futebol.
É. Talvez a frase criada pelos norte-irlandeses, onipresente em faixas no funeral do genial “Belfast Boy”, não seja tão exagerada:
“Maradona good, Pelé better, George Best“. Não é preciso traduzir.
Um pouco de George Best, ao som de “Let it Be”:
Documentário:
Fontes e +MAIS:
– bbc.com