Toquinho foi o parceiro mais duradouro de Vinicius.
Ao longo de 10 anos, construíram uma amizade ímpar.
Foram cúmplices, confidentes, companheiros, irmãos.
Viveram um casamento sem sexo, como o poeta definiu suas parcerias musicais.
Há inúmeras histórias saborosas da dupla, sempre contadas com alegria, graça e uma boa saudade por Toquinho.
Algumas são tocantes, como a que Toquinho relembra a composição de “O filho que eu quero ter”, no disco A Luz do Solo.
Outras são engraçadas, como quando Vinicius perde as calças em pleno centro de São Paulo, em meio a um sermão que questionava os apressados engravatados sobre o amor por suas respectivas.
Escolho a que revela a alma sentimental do poeta Vinicius de Moraes.
José Castello:
Vinicius, como todo poeta hipnotizado pelos sentimentos, não era um especialista na demarcação dessa fronteira entre o que existe e o que não existe. Como todo poeta que não deseja agir como um gerente autorizado das palavras, ele flutuava sobre a vida real, como um anjo gordinho. Houve aquela manhã em que Toquinho, hospedado no apartamento do poeta, deparou com um homem amuado e mal dormido. “Bom dia, Vinicius”, ainda tentou. “Bom dia”, resmungou o outro com irritação. Toquinho tentou se concentrar na leitura do jornal, mas não resistiu: “Vinicius, você acordou com algum problema?”. Ouviu, então, surpreso: “Olha, Toquinho, vou te dizer uma coisa: se algum dia você me trair, eu te quebro a mão”. E, com a crueza de um açougueiro, especificou: “Com um martelo”. Toquinho sentiu o sangue subir: “Você está doido, Vinicius?”. E o poeta, expondo por fim sua ferida: “Essa noite eu sonhei que você me traiu”. Só muitas horas depois, cedendo aos argumentos do parceiro de que sonhos não pertencem à vida real, Vinicius decidiu perdoar Toquinho pelo que ele não tinha feito.
A vida é uma grande ilusão, poeta!
Ouça “Sei lá… a vida tem sempre razão”:
Fontes:
– Biografia Vinicius de Moraes – O poeta da paixão, de José Castello